“A hora de comprar é quando há sangue nas ruas”
Baron Rothschild
Sumário executivo
Mercado Global
Nos Estados Unidos, a economia mostra sinais claros de desaceleração estrutural, com progresso na redução da inflação, mas preocupações crescentes sobre o enfraquecimento do mercado de trabalho, levando a expectativas de cortes nas taxas de juros pelo Fed a partir de setembro
Globalmente, há uma tendência de redução sincronizada das taxas de juros pelos principais bancos centrais e que deve ser impulsionada pelo provável início de ciclo de cortes nos Estados Unidos. Na contramão, o Japão surpreendeu o mercado ao aumentar sua taxa de juros em julho
A mudança na política monetária do Japão, após anos de taxas baixas, teve um impacto significativo nos mercados globais, especialmente resultante dos desmontes das estratégias de carry trade, causando deslocamentos relevantes nos preços dos ativos
Mercado Local
O Brasil enfrenta um cenário desafiador de taxas de juros locais devido a percepção de problemas fiscais e depreciação da moeda. Embora julho tenha trazido um alívio temporário com anúncios de ajustes fiscais, essas medidas ainda são consideradas iniciais e insuficientes para ganhar a confiança do mercado
O movimento de alta nas expectativas de inflação continua, apesar de um IPCA de junho benigno. A leitura menos otimista do IPCA-15 e a postura mais rigorosa do Copom, que manteve as taxas de juros estáveis, aumentaram as especulações sobre futuras elevações da Selic
Nossas visões
Nos Estados Unidos, a trajetória de desinflação e o aumento dos riscos no mercado de trabalho devem pressionar a decisão de política monetária daqui para frente. Acreditamos que o Fed iniciará o ciclo de cortes de juros na reunião de setembro.
No Brasil, apesar do IPCA-15 acima do esperado, não se espera uma mudança significativa na desinflação. Acreditamos que o início do ciclo de corte de juros pelo Fed reverta a desvalorização do Real, junto com a dissipação de fatores temporários. No geral, vemos os ativos de risco brasileiros subvalorizados, apresentando oportunidades atrativas no mercado doméstico
Continuamos construtivos com a Bolsa brasileira, devido à baixa volatilidade, valuations atrativos e um mercado desalocado. Com isso, continuamos com nossa exposição elevada em Renda Variável; vemos oportunidades em títulos prefixados e NTN-Bs de longo prazo; mantemos uma posição aplicada na parte longa da curva de juros americana
Estados Unidos: O inimigo agora é outro
Nos Estados Unidos, uma nova tese econômica vem ganhando força: a economia pode estar no meio de uma desaceleração mais significativa. A divulgação de dados importantes e monitorados de perto pelo Fed ao longo do mês reforçaram essa hipótese.
O grande destaque do mês para a economia norte-americana foi a continuação do processo desinflacionário. Pelo segundo mês consecutivo, diversos indicadores surpreenderam para baixo ou ficaram em linha com as expectativas do mercado, sugerindo uma trajetória mais convergente da inflação, trazendo alívio significativo para o Fed. Esta dinâmica indica que a recente aceleração da inflação no início do ano deveu-se a efeitos de calendário e aumentos pontuais, não a uma aceleração generalizada. Portanto, o processo de desinflação continua.
Além das surpresas nos dados de inflação, outros fatores têm sustentado a dinâmica de preços. Entre eles, destacamos a redução da inflação dos aluguéis para o ritmo pré-pandemia, o crescimento moderado dos salários, que reduz as pressões de custo, e a maior sensibilidade dos consumidores a preços:
“[...] Embora os gastos dos consumidores tenham sido geralmente relatados como apresentando pouca ou nenhuma mudança, quase todos os Distritos mencionaram varejistas oferecendo descontos em itens ou consumidores sensíveis a preços comprando apenas itens essenciais, optando por produtos de menor qualidade, comprando menos itens ou pesquisando as melhores ofertas.”
Tradução do relatório do Livro Bege do Federal Reserve (17/07/2024)
Todas essas evoluções recentes contribuem para a redução da inflação nos próximos meses. No entanto, o Fed ainda não está confiante o suficiente e segue afirmando que precisa de mais dados para garantir que a inflação está se movendo de forma sustentável em direção à meta, embora tenha reconhecido “algum progresso adicional”.
Com a inflação apresentando progresso significativo, o Fed está focando mais em seu outro objetivo: manter um mercado de trabalho forte. Eles estão tentando encontrar um equilíbrio cuidadoso no qual eliminem completamente a inflação sem causar aumento do desemprego. Nos últimos meses, o mercado de trabalho norte-americano tem mostrado sinais de moderação e começamos a ver essa dinâmica com um tom mais preocupante, com surpresas negativas nos indicadores desde o início de julho. Ao longo do mês, diversos dados reforçaram esse cenário.
Em julho, houve uma surpresa positiva no crescimento do número de postos de trabalho do JOLTS. No entanto, essa “surpresa” parece ser inflada por um aumento nas vagas de emprego no governo, mais do que compensando a queda nas vagas do setor privado. Enquanto as empresas reduzem substancialmente suas vagas, a níveis equivalentes ao final de 2018, as vagas no setor público estão próximas das máximas. Essa tendência negativa também é refletida pelos números de demissões voluntárias, que indicam a confiança dos trabalhadores em encontrar melhores salários, e pelo número de contratações efetivas, ambos em forte queda.
Adicionalmente, o mercado de trabalho mostrou sinais de deterioração com o aumento de pedidos de auxílio desemprego (jobless claims), uma tendência crescente desde o início do ano, e nas pesquisas de contratações tanto no setor manufatureiro quanto no setor de serviços (ISM Manufacturing e ISM Services), indicando contração nas contratações. A taxa de desemprego também subiu para 4,3%. Historicamente, essa taxa ainda é baixa, mas vem crescendo em relação aos recentes 3,5%.
No geral, do lado da inflação, já vemos progresso suficiente para justificar o primeiro corte nas taxas de juros. Adicionalmente, o aumento nos pedidos de seguro-desemprego, a contração nas pesquisas de contratações e os relatórios de empregos de julho colocam pressão adicional na decisão do Fed. Embora a situação atual do mercado de trabalho americano não esteja crítica, é inegável que está desacelerando. Acreditamos que o Fed esteja atento a essas evoluções e que iniciará o ciclo de corte de juros em setembro. Atualmente, o mercado precifica uma probabilidade de 100% de cortes de pelo menos 25 pontos-base na reunião do FOMC de setembro.
Mundo: Corte sincronizado de juros e o Japão na contramão
Com a queda contínua da inflação global nos últimos meses, os Bancos Centrais estão respondendo a preocupações semelhantes sobre o crescimento econômico. O provável início de um ciclo de cortes nos Estados Unidos em setembro deve desencadear um movimento sincronizado de redução nas taxas de juros ao redor do mundo, com as principais economias seguindo uma trajetória similar.
Na Europa, o Banco Central Europeu (BCE) já deu o primeiro passo nessa direção, iniciando a redução das taxas de juros em junho com um corte de 25 pontos-base. O mercado aguarda com expectativa a possibilidade de mais dois cortes até o final do ano. De forma semelhante, o Banco da Inglaterra (BoE) surpreendeu parte do mercado ao anunciar o primeiro corte de 25 pontos-base na taxa de juros desde a pandemia de COVID-19. No entanto, o BoE sinalizou que este provavelmente não será o início de um ciclo de cortes agressivo.
O Banco Popular da China (PBOC) também surpreendeu o mercado em julho com cortes nas taxas de juros, demonstrando seu desejo de apoiar o crescimento econômico sem prejudicar o Yuan. Esta ação ocorreu poucos dias após cortes inesperados em outras taxas e sinais positivos do Terceiro Plenário.
Contrastando com as principais economias desenvolvidas, o Banco do Japão (BoJ) adotou uma postura divergente, surpreendendo o mercado com um aumento da sua taxa de juros para 0,25%. Acompanhando esta decisão, o presidente Kazuo Ueda passou uma mensagem mais dura, sugerindo a possibilidade de novas altas caso a inflação continue subindo. O mercado de juros futuros do Japão reflete essa mudança de postura, precificando uma chance de aproximadamente 50% de que o BoJ aumentará a taxa básica em 15 pontos-base em sua reunião de 31 de julho.
A situação do Japão é particularmente intrigante quando consideramos o contexto histórico. Por anos, enquanto o resto do mundo lutava para manter a inflação sob controle, o Japão a recebeu de braços abertos. Nos últimos anos, o país experimentou uma explosão de inflação, vista como uma forma de tirar a economia de um ciclo de décadas de crescimento fraco e pressão deflacionária. Assim, enquanto os principais bancos centrais aumentavam as taxas de juros para controlar os preços, o Banco do Japão manteve as taxas baixas, permitindo que a inflação se acelerasse.
No entanto, a situação evoluiu de forma inesperada. A inflação não apenas aumentou, como o Iene também sofreu uma forte depreciação, causando problemas adicionais, incluindo o aumento de preços de bens importados e impactos no consumo. Essas circunstâncias levaram o BoJ a reagir com uma política monetária mais restritiva.
As taxas de juros baixas no Japão vinham servindo como funding para aplicações em outros ativos, como o Dólar ou o S&P 500, em uma estratégia conhecida como carry trade. Esta estratégia consiste em tomar empréstimos em moeda de um país com juros baixos para comprar ativos de países com juros mais altos. Quando a autoridade monetária japonesa decidiu elevar os juros, ocorreu um forte short squeeze, gerando um deslocamento relevante nos preços dos ativos globais.
Brasil: Caminhando na contramão
Enquanto o mundo se encaminha para um ambiente de taxas de juros mais baixos, o Brasil, com seus atuais problemas fiscais, e resultante depreciação de sua moeda, apresenta um cenário mais desafiador para as taxas de juros locais.
Apesar do cenário desafiador, julho trouxe um respiro momentâneo. O anúncio de uma série de ajustes visando o cumprimento das regras fiscais sinalizou um movimento em direção a uma maior austeridade. Essas medidas de contenção de gastos, embora representem passos importantes, ainda são consideradas iniciais e insuficientes para conquistar plenamente a confiança do mercado quanto às perspectivas econômicas do país.
No lado da inflação, continuamos vendo um movimento de alta nas expectativas de inflação. Apesar do IPCA de junho ter ficado bem abaixo das estimativas e com uma composição bastante benigna, a leitura menos otimista do IPCA-15 serviu como um alerta, alimentando especulações de que o Comitê de Política Monetária (Copom) possa adotar uma postura mais rígida nas próximas decisões.
A reunião do Copom em julho manteve as taxas de juros estáveis em 10,5%, em linha com as expectativas do mercado. O comunicado, embora tenha adotado um tom mais rigoroso como previsto, surpreendeu ao não sinalizar intenções imediatas de elevar a taxa Selic. O comitê destacou riscos importantes, como a possível desancoragem prolongada das expectativas inflacionárias e a persistente depreciação do Real, enfatizando a necessidade de maior vigilância sobre a inflação local. Essa postura cautelosa não impediu que tanto a curva futura quanto o mercado de opções voltassem a precificar um ciclo significativo de alta de juros.
Em nossa visão, o comitê está ganhando tempo para avaliar se as mudanças nas expectativas de inflação e no câmbio são transitórias ou duradouras. Com isso, o Banco Central aguarda a materialização da queda de juros nos Estados Unidos, prevista para setembro, e em outras economias desenvolvidas, além de monitorar a manutenção da meta fiscal. Estes fatores são cruciais para o reequilíbrio do câmbio e o alívio da pressão sobre a curva de juros. Esperamos que o Copom observe atentamente em que nível a taxa de câmbio se estabilizará antes de avaliar seus impactos na inflação e nas expectativas.
É importante ressaltar que, mesmo diante da escalada dos riscos externos e das preocupações fiscais suscitadas por certas sinalizações do governo, ainda vemos a realidade corrente da economia brasileira com tom positivo. O rumo fiscal escolhido pelo governo será determinante para a trajetória dos ativos de risco brasileiros no segundo semestre.
O comportamento dos ativos
Para os ativos de risco, o mês de julho foi marcado por movimentos significativos nos mercados financeiros globais, com destaque para uma forte rotação nos mercados de ações americanos e importantes desenvolvimentos nas moedas internacionais.
Nos Estados Unidos, observou-se uma forte realização nas ações, impulsionada por uma rotação expressiva de Large (ou Mega) Caps para Small Caps. Este movimento foi motivado não apenas por uma maior aversão ao risco em relação à economia americana, mas também por preocupações crescentes sobre os investimentos em infraestrutura de Inteligência Artificial. Os investidores demonstraram cautela quanto ao momento em que as grandes empresas de tecnologia começarão a exibir crescimento adicional resultante desses gastos substanciais. Com isso, as Small Caps, representadas pelo índice Russell 2000, registraram um impressionante aumento de 10%. Em contraste, o S&P 500 teve um ganho modesto de 1,1%, enquanto uma cesta de ações das chamadas Magnificent 7 apresentou uma queda de 0,5%.
Este cenário de rotação também impactou o desempenho setorial. Os setores de Tecnologia da Informação e Semicondutores, líderes nos últimos meses, apresentaram as piores performances do mês. O mercado mostrou-se particularmente crítico em relação à divulgação de resultados dessas companhias. Por outro lado, os setores Imobiliário, Utilidade Pública e Bancos foram os grandes vencedores do período.
No cenário brasileiro, apesar da persistência de riscos já conhecidos, julho proporcionou um ambiente favorável para os ativos de risco domésticos. O anúncio do congelamento de R$ 15 bilhões no orçamento, visando cumprir as exigências do novo arcabouço fiscal, foi o grande destaque do mês. Esta medida trouxe alívio e suporte para os investidores, resultando em um fechamento da curva de juros, especialmente nos vértices intermediários e longos. Refletindo esse otimismo, o Ibovespa encerrou o mês com uma alta de 3%.
No mercado de câmbio, o Iene japonês foi o grande destaque com uma valorização de 7,3% em relação ao Dólar. Este movimento foi impulsionado pelo aumento das taxas de juros pelo BoJ e pelo anúncio de uma redução na flexibilização quantitativa através da compra de títulos. A forte apreciação do Iene teve repercussões globais, provocando uma desvalorização significativa de diversas moedas emergentes. O Real não ficou imune a essa dinâmica e manteve sua trajetória de desvalorização. Além da influência do fortalecimento do Iene, a moeda brasileira também foi pressionada pelo recuo nos preços das commodities.
Nossas visões
Estados Unidos
A trajetória de desinflação gradual nos Estados Unidos continua sendo um sinal positivo para um eventual início de cortes nas taxas de juros. No entanto, a recente desaceleração do mercado de trabalho tornou-se uma fonte crescente de preocupação. O aumento no desemprego, combinado com o duplo-mandato do Fed, adiciona uma camada de complexidade à decisão de política monetária daqui para frente. Portanto, seguimos confiantes de que o Fed iniciará o ciclo de cortes de juros na reunião de setembro.
Brasil
No cenário doméstico brasileiro, apesar da divulgação do IPCA-15 acima do esperado, não antecipamos uma alteração significativa na dinâmica desinflacionaria. Nossa expectativa é que o início do ciclo de corte de juros pelo Fed reverta substancialmente o movimento de desvalorização do Real, em conjunto com a dissipação de fatores conjunturais.
Em nossa visão, o Real está significativamente desvalorizado, mesmo com a entrada líquida de 12 bilhões de dólares no Brasil ao longo de 2024. Embora esperemos uma volatilidade elevada no curto prazo, principalmente devido aos movimentos do Iene japonês, projetamos uma valorização importante da moeda brasileira nos próximos meses. No geral, continuamos a avaliar que os preços dos ativos de risco brasileiros estão subvalorizados em relação à realidade econômica, o que pode gerar oportunidades atrativas nos ativos domésticos.
Crédito privado e títulos públicos
Na renda fixa doméstica, continuamos vendo oportunidades em títulos prefixados, especialmente na inclinação da curva de juros, e em títulos atrelados à inflação (NTN-Bs) com horizonte mais longo. No mercado norte-americano, mantemos uma posição modestamente aplicada na parte longa da curva de juros, antecipando benefícios do fechamento da curva americana.
Quanto à alocação em crédito privado, mantemos uma postura conservadora em relação ao prazo e ao tamanho total da alocação, adotando cautela em novas aquisições. Ao longo do último mês, aproveitamos oportunidades para ampliar a diversificação em instituições financeiras. Nossa exposição atual concentra-se em ativos bancários de emissores tradicionais e em debêntures de distribuidoras de energia classificadas como High Grade.
Renda Variável
Mantemos nossa visão positiva sobre a bolsa brasileira, sustentada pela combinação de um ambiente de volatilidade, níveis de valuation historicamente baixos e um mercado majoritariamente desalocado. Consequentemente, continuamos com uma exposição elevada à Bolsa brasileira, mas ainda protegidos por estruturas de opções. Em termos relativos, acreditamos que a Bolsa brasileira tem potencial para superar seus pares, seja caindo menos em cenários adversos ou subindo mais caso as bolsas internacionais se estabilizem. No exterior, continuamos com posição comprada em bolsa chinesa e vendida em bolsa europeia.
Nossos fundos
Renda Fixa: Em julho, nossas estratégias de Renda Fixa apresentaram resultados expressivos. O Persevera Trinity, nosso fundo de Renda Fixa Caixa, destacou-se com um rendimento de 0,98% (107% do CDI), acumulando 105% do CDI em 2024 e posicionando-se entre os 25% melhores fundos da categoria. O Persevera Yield, nossa opção de crédito conservador, alcançou 0,97% de retorno (106% do CDI), com um desempenho acumulado de 110% do CDI no ano. Complementando o segmento, o Persevera Phoenix, nossa estratégia de Renda Fixa Ativa, beneficiou-se do fechamento da curva de juros doméstica, encerrando o mês com valorização de 1,14%.
Renda Variável: O Persevera Nêmesis, nosso fundo de retorno total, capitalizou sobre o aumento da exposição em Bolsa e a queda na curva de juros americana, registrando alta de 3,1%, em linha com o Ibovespa. Seu desempenho em 2024 de 5,5%, com volatilidade reduzida, demonstra seu perfil mais resiliente frente às oscilações da Bolsa brasileira. O Persevera Proteus, nosso fundo de ações puro, superou o índice subindo 4,9% no mês.
Multimercados: Nosso fundo multimercado, o Persevera Compass, aproveitou as oportunidades em renda variável, juros domésticos e moedas, alcançando um retorno de 1,94% em julho.
Para informações completas, consulte os materiais informativos.
Equipe Persevera
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