"Tudo se resume à taxa de juros. Como investidor, o que você faz é aplicar um capital para [obter] um fluxo de caixa no futuro."
Ray Dalio [1]
Sumário executivo Mercado Global
Bancos Centrais mantêm postura contracionista
Receio de recessão global diminui, favorecendo o mercado de ações
China começa a estimular a economia, mas ainda de forma cautelosa
Commodities mais estáveis, com as restrições de oferta limitando quedas
Mercado Local
Banco Central sinaliza início do ciclo de cortes em agosto
Perspectiva positiva para o rating do Brasil pela S&P consolida visão de melhora decorrente das reformas dos últimos anos
Ativos brasileiros seguem em forte recuperação com perspectivas mais positivas
Cenário e Posições
Selic deve começar a cair em agosto, com corte de 0,5 p.p.
Banco central deverá acelerar ritmo para 0,75p.p. ou 1p.p., ajudado pela taxa de câmbio
Mercado local combina valuation atrativo, melhora de percepção de risco e, agora, momentum favorável
Recessão descartada? Os mercados de ações globais continuaram a mostrar força no mês de junho, com o índice S&P 500 em alta de 6,5%, levando a uma valorização de 15,9% no ano. A resolução da disputa do debt ceiling em maio, a contínua melhora de liquidez no setor bancário e os dados de atividade melhores do que o esperado sustentaram esse ambiente positivo. O dólar manteve o movimento de desvalorização, ainda que vindo de patamares elevados.
Os ativos de renda fixa tiveram uma dinâmica diferente. Os bancos centrais dos países desenvolvidos mantiveram uma retórica mais contracionista. O Fed, banco central norte americano, apesar de não ter elevado a taxa básica em sua reunião de junho, divulgou projeções sinalizando mais duas elevações de 0,25 p.p. ainda em 2023. Na entrevista coletiva, o presidente Jerome Powell reforçou a postura mais cautelosa, apontando que o trabalho de controle das taxas de inflação ainda não está completo.
Além disso, outros bancos centrais mantiveram postura conservadora no Fórum anual do Banco Central Europeu (BCE) em Sintra. O próprio BCE indicou que ainda não está próximo de interromper a elevação dos juros, e o Banco da Inglaterra também surpreendeu para cima ao elevar a taxa básica em 0,5 ponto percentual.
Nesse ambiente, as taxas de juros de mercado voltaram para próximo das máximas recentes, prejudicando o desempenho dos títulos soberanos. Os títulos corporativos, por outro lado, tiveram desempenho melhor, suportados pela continuidade da queda dos prêmios de crédito privado, que mantiveram as taxas totais aproximadamente estáveis.
Por fim, as commodities interromperam o movimento de queda e apresentaram recuperação no mês, auxiliadas pelo ambiente mais positivo com atividade global. Além disso, as autoridades chinesas continuaram o processo de estímulo econômico para atingir a meta de crescimento de 5% neste ano e direcionaram novos estímulos pontuais caso necessário. O país asiático tem sido mais parcimonioso em suas políticas econômicas, por exemplo, não promovendo uma desvalorização mais forte da sua moeda ou concedendo estímulos monetários tão significativos, dada a alta alavancagem presente em alguns setores, como o imobiliário.
A cereja do bolo Os mercados locais tiveram excelente desempenho em junho. O IPCA de maio, divulgado no início do mês, trouxe surpresas para baixo tanto no índice cheio quanto nos núcleos, acumulando em 12 meses 3,94%, como antecipamos na carta Inflação abaixo de 4%. Esse número positivo reforçou o processo de revisão para baixo das expectativas de inflação, o que, por sua vez, abriu caminho para o Banco Central finalmente comunicar que poderá iniciar o ciclo de cortes na taxa Selic em agosto.
A perspectiva de proximidade de queda de juros impulsionou todos os mercados locais, e para coroar o momento positivo para os ativos brasileiros, a agência de classificação de risco Standard & Poor’s revisou a perspectiva da nota de crédito do Brasil para positiva.
Nesse ambiente favorável, os juros futuros despencaram entre 0,70 e 0,85 ponto percentual ao longo da curva, o Real se valorizou em mais de 5% e o Ibovespa mostrou alta de 9% – trazendo a variação em 2023 para o campo positivo (+7,6%).
Resultados no trimestre Como fazemos a cada três meses, nesta carta vamos repassar as estratégias e resultados dos fundos da Persevera.
Persevera Phoenix O Persevera Phoenix é o nosso fundo de renda fixa ativo, que busca obter ganhos com posições nos mercados locais de juros nominais, juros reais e inflação implícita. Ao longo do trimestre, aumentamos gradativamente, mas de forma relevante, as posições aplicadas do fundo. Fizemos isso à medida que foi ficando mais claro que haveria limites relevantes para expansão de gastos governamentais nos próximos anos. Há muito tempo temos defendido que os analistas e investidores exageravam no pessimismo com a situação fiscal do país. Com as reformas implementadas desde 2016 – uma verdadeira herança bendita –, bastava que o novo governo se comprometesse com parâmetros fiscais aceitáveis para que a trajetória da dívida pública continuasse sustentável, o que tem se materializado.
Além disso, temos defendido há tempos que o remédio monetário aplicado pelo Banco Central – trazendo a Selic de volta para o patamar de 13,75%a.a. – deverá se mostrar excessivo, à medida que passamos pela reversão do choque de oferta observado durante a pandemia. Como já descrevemos, neste trimestre ficou claro que há espaço para um relevante afrouxamento monetário.
Nesse cenário favorável, nossas posições aplicadas em juros nominais e reais contribuíram positivamente no trimestre, quando o fundo apresentou rentabilidade de 149% do CDI. Em junho, a estratégia obteve retorno de 202% do CDI trazendo o resultado no ano para 121% do CDI.
Persevera Compass e Compounder O Persevera Compass, nosso fundo multimercado multiestratégia, apresentou rentabilidade de 206% do CDI em junho, totalizando +4,09% no trimestre, ou 130% do CDI. As estratégias de juros nominais e reais também foram as que trouxeram os maiores ganhos no trimestre, contribuindo com 184 bps[2]. As estratégias de ações locais adicionaram 40 bps, enquanto as exposições compradas em Real adicionaram outros 30 bps. No trimestre, as posições detratoras foram as estratégias de commodities (-38 bps), as posições nas demais moedas (-22 bps) e a posição vendida em S&P 500 (-14 bps).
O Persevera Compounder, nosso veículo previdenciário, teve variação de 147% do CDI no último mês, o que trouxe o resultado no trimestre para 3,62% ou 115% do CDI. Assim como no Compass, os principais ganhos vieram das estratégias de renda fixa (+112 bps), ações (+62 bps) e Real (+38 bps). Os maiores detratores foram as posições nas demais moedas (-7 bps) e vendidas em S&P 500 (-10 bps).
Persevera Nêmesis O Persevera Nêmesis, nosso fundo de renda variável “retorno total”, apresentou rentabilidade de +2,73% no trimestre. A carteira de ações adicionou +183 bps, com os principais destaques sendo Hapvida (+138 bps) e Cury (+67 bps), e Aura (-79 bps) foi a principal detratora. Nossa estratégia long & short também teve boa performance (+70 bps), com os destaques ficando para Grupo Mateus vs. Assaí (+190 bps), enquanto BTG vs. XP ficou na ponta negativa (-101 bps). Nossa estratégia quantitativa detraiu 42 bps e nossos hedges detraíram -171 bps, sobretudo as posições vendidas em S&P ao longo do trimestre, baseadas em nossa visão direcional para a bolsa americana, e as posições de hedge no Ibovespa utilizadas para neutralizar nossa exposição às ações individuais.
Persevera Trinity O Persevera Trinity, nosso fundo DI conservador, também foi beneficiado pelo ambiente positivo descrito acima. Os prêmios dos títulos públicos pós fixados se reduziram de forma relevante no ano, permitindo que a estratégia se aproximasse dos 100% do CDI nos últimos meses, e fechasse o trimestre em 98% do CDI.
Além disso, estamos gradativamente montando uma carteira conservadora de crédito bancário de primeira linha, a qual, ao longo do tempo, levará o fundo a uma rentabilidade perenemente mais próxima do indexador.
Perspectivas e Posições Mercados Globais Apesar das sinalizações mais conservadoras dos bancos centrais dos países desenvolvidos, que apontam para contrações monetárias adicionais no segundo semestre, continuamos com a visão de que o processo inflacionário foi principalmente causado por fortes choques de oferta. Conforme essas restrições são revertidas, as pressões inflacionárias tendem a arrefecer mesmo em um ambiente de atividade econômica saudável.
Por conta disso, achamos que o fim dos ciclos de alta de juros também está próximo nos países desenvolvidos. Em breve, é possível que a queda da inflação permita uma normalização das taxas de juros também por parte desses bancos centrais. Por isso, mantemos posições overweight nos mercados de treasuries de 2 e 10 anos. No mercado de crédito privado, continuamos acreditando que o nível das taxas nominais é bastante atrativo, justificando posições em títulos grau de investimento alto rendimento.
Continuamos com uma visão neutra para o mercado de ações globais, dados o nível elevado da taxa de juros de curto prazo e certa preocupação com uma possível desaceleração econômica. No entanto, caso esse processo de queda da inflação não seja acompanhado de uma recessão – o chamado “pouso suave” –, há espaço para uma valorização mais sustentada nos preços das ações.
Por fim, continuamos a deter posições compradas em commodities. Acreditamos que a demanda por esses ativos deve ser beneficiada no segundo semestre, em decorrência da aceleração do crescimento econômico, da oferta limitada de produção, dos baixos estoques e da sazonalidade favorável.
Mercado Local Acreditamos que o segundo semestre vai continuar se mostrando muito positivo para os ativos brasileiros. Após a sinalização de início de afrouxamento monetário pelo Banco Central, o Conselho Monetário Nacional (CMN) definiu que a meta de inflação passará a ser contínua e de 3% a.a. Essa definição carregou muita importância, pois havia um receio difundido entre os analistas de que a administração atual pretendia elevar a meta de inflação para forçar – de forma artificial – cortes na taxa Selic.
Na verdade, a percepção de mudança na meta estava inflando as projeções de longo prazo, que tiveram quedas relevantes já na primeira divulgação do Focus no segundo semestre.
Acreditamos que essas projeções deverão cair ainda mais, convergindo para próximo da meta de 3%. Essas estimativas em queda retroalimentam os modelos de projeção do Banco Central, de forma que deveremos ver, nas próximas reuniões do Copom, quedas relevantes das projeções de inflação da autoridade monetária.
Sendo assim, o BCB deve iniciar o ciclo de cortes de juros já em agosto, possivelmente com uma redução de 0,5 p.p. na taxa Selic. Mais do que isso, a combinação de inflação e projeções em queda levará a autoridade monetária a acelerar futuramente os cortes, para 0,75 p.p., e não descartamos reduções de 1 ponto percentual ao longo deste ciclo. Mesmo com toda a queda já observada na taxa de juros projetada para 1 ano, os juros reais vistos de hoje ainda estão próximos às máximas dos últimos 10 anos.
Portanto, nossas principais exposições continuam a ser em ativos prefixados e em títulos públicos ligados ao IPCA. Em especial, o Persevera Phoenix está posicionado para continuar capturando prêmios nos mercados locais de renda fixa.
No caso do Persevera Compass, também continuamos com posições compradas no Real contra o Dólar. A moeda brasileira deve continuar se beneficiando de um diferencial de juros ainda elevado e da melhora na percepção do risco fiscal no Brasil, especialmente quando comparado com a situação de outros emergentes.
Por fim, o cenário de corte de juros deverá beneficiar também os mercados de crédito e de renda variável. Nesses mercados, temos mantido posições menores e com perfil mais oportunista, mas, com o início do ciclo de queda dos juros, acreditamos que em breve será o momento de aumentar essas posições de forma relevante. Nesse ambiente, o fundo Persevera Nêmesis, nosso fundo de ações total return será uma boa opção de investimento, por possuir uma estratégia flexível de exposição ao mercado com risco controlado.
O mercado brasileiro parece estar caminhando para uma conjunção de fatores muito favorável – preços ainda atrativos, melhora na percepção dos fundamentos e agora, finalmente, entrando em um movimento sustentado de melhora. Acreditamos que isso aponta para bons retornos no segundo semestre do ano.
Equipe Persevera
Resumo Fundos
Para informações completas, consulte os materiais informativos
[1] “It all comes down to interest rates. As an investor, all you're doing is putting up a lump-sump payment for a future cash flow.” https://www.brainyquote.com/quotes/ray_dalio_477403?src=t_interest_rates [2] 1 bp – basis point – equivale a 0,01%
(11) 4780-3794
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